Este 4º domingo da Páscoa é também conhecido como o Domingo do Bom Pastor porque Jesus usa esta imagem bem conhecida do mundo rural para se apresentar como o pastor que conduz e protege o rebanho, estando disposto a dar a vida pelas suas ovelhas.
Sem entrar em discussões sobre o que possa ser um “católico praticante” ou “não praticante”, ou até um “católico não crente”, como já se ouviu alguém dizer, pertencer ao rebanho de Jesus é acreditar nas suas palavras, confiar-lhe toda a minha vida, entregar-me a Ele, ser d’Ele.
Não se trata de um conhecimento meramente intelectual e de uma escuta como quem ouve um podcast qualquer, mas de aderir a Jesus, ao seu ensinamento, aos seus gestos, à sua vida, geradora de vida eterna, aquela vida que nos dá força para caminhar dia após dia mesmo diante do que nos amedronta e é, por vezes, causa de angústia.
Por isso é que Jesus diz: «as minhas ovelhas escutam a minha voz. Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-me». Os cristãos não são uma 'rebanhada acéfala', que não pensam pela sua própria cabeça; pelo contrário, em liberdade e consciência, aderem à vida e ao projeto de vida de Jesus.
É verdade que há muitas vozes de muitos falsos pastores que nos desviam de Jesus e nos fazem tantas vezes sentir enganados. São vozes de ladrões que nos roubam a vida em Deus, por vezes vestidos com pele de cordeiro mas ansiosos por louvores humanos e homenagens com bustos que o tempo enferruja.
Mas Jesus não nos engana. Ele é pastor do alto da Cruz, lugar de mistério e transparência. Ao contemplá-lo ninguém se pode sentir enganado. É um Deus que se vai desvelando no lava-pés, sem falsas promessas.
A não ser a de que o Pai do céu «é maior que todos e ninguém pode arrebatar nada da mão do Pai». Por isso, se confiamos em Deus, não temos de ter medo das bruxas, dos maus olhados e, claro, dos fiscais da fé. Deus é maior que todos! Mas também não podemos correr para as videntes e as cartomantes a seguir à Missa como quem quer estar de bem com Deus e com o Diabo.
No meio de tantas palavras e de tanto ruído, o discernimento permite distinguirmos aqueles que falam do que não vivem daqueles cuja vida é feita de doação e entrega. São estes últimos que nos conduzem a Jesus o Bom, o Belo, o Verdadeiro Pastor. São estes últimos que nos ajudam a ser e a viver em comunhão com Jesus, tal como Ele e o Pai são um.
Hoje celebramos também o Dia Mundial de Oração pelas Vocações. Na mensagem que escreveu para este dia, o Papa Francisco relembra que «a Igreja existe para […] espalhar a semente do Evangelho na história» que vamos construindo em cada dia. E essa é uma missão de todos e cada um dos batizados.
Por isso, «a palavra ‘vocação’ não deve ser entendida em sentido restrito, referindo-a apenas àqueles que seguem o Senhor pelo caminho duma consagração específica». Todos somos chamados a viver a vocação à vida e ao amor, a «tornarmo-nos uma família na maravilhosa casa comum da criação, na variedade harmoniosa dos seus elementos».
Em cada um de nós, Deus «vê potencialidades, às vezes ignoradas por nós mesmos, e atua incansavelmente, ao longo da nossa vida, a fim de as podermos colocar ao serviço do bem comum».
A Palavra de Deus abre de modo especial o nosso coração à vocação a que Deus nos chama, mas também a palavra edificante dos «irmãos e irmãs na fé». Mas a palavra edifica quando acompanhada pelo «mesmo olhar de Jesus, cheio de amor.» De outro modo, um olhar agressivo, mata a vida e mata a vocação.
De modo a ilustrar como todas as vocações têm em vista «olhar os outros e o mundo com os olhos de Deus, servir o bem e difundir o amor com as obras e as palavras», o Papa Francisco apresenta o exemplo do médico venezuelano, Dr. José Gregório Hernández Cisneros, irmão terceiro franciscano, que chegou a pensar em ser padre mas depois compreendeu que a sua vocação era precisamente a de médico, «na qual se prodigalizou especialmente a favor dos pobres. E, sem reservas, dedicou-se aos doentes atingidos pela epidemia de gripe chamada 'espanhola', que então alastrava pelo mundo. Morreu atropelado por um carro, ao sair duma farmácia aonde fora buscar remédios para uma idosa, sua paciente. Testemunha exemplar do que significa acolher a vocação do Senhor aderindo plenamente à mesma, foi beatificado há um ano».
Visto desta forma, toda a ‘vocação’ deve ser desenvolvida e vivida plenamente para que, cada um a seu jeito, e todos – sacerdotes, consagrados/as e fiéis leigos – caminhando e trabalhando juntos, testemunhemos «que uma grande família humana unida no amor não é uma utopia, mas o projeto para o qual Deus nos criou!».
Leituras:
1ª: At 13,14.43-52. Salmo: 100/99,2.4.5.6.11.12.13b. R/ Nós somos o povo de Deus, somos as ovelhas do seu rebanho. 2ª: Ap 7,9.14b-17. Evº: Jo 10,27-30. IV Semana do Saltério.