Ao longo das diversas estações – Tempos litúrgicos – de Advento, Natal, Quaresma, Páscoa e Tempo Comum, a Igreja quer que os cristãos vivamos e interiorizemos o mistério da salvação, celebrando e meditando os seus conteúdos e momentos mais importantes. Não é um voltar a começar, numa espécie de “eterno retorno”, mas um seguir adiante no aprofundamento da fé e da vida.
Cada tempo tem a sua “cor” e a sua caraterística. O Advento carateriza-se por um roxo azulado (que bebe da luz de Cristo, embora na prática muitas comunidades usem os mesmos paramentos do roxo encarnando da Quaresma, que bebe no sangue de Cristo). Este Tempo sensibiliza-nos a vivermos orientados para Cristo, princípio e meta da nossa esperança.
É mesmo esta, a palavra que percorre e dimensiona o Advento: ESPERANÇA. Como é também, uma das palavras mais frequentes na nossa linguagem. Associamo-la à vida; é sinal de vida – «Enquanto há vida há esperança», dizemos –, e causa de vida, porque «enquanto há esperança há vida». É «a última a perder-se».
Por isso, o apóstolo Paulo exortava: «Não queremos deixar-vos na ignorância a respeito dos que faleceram, para não andardes tristes como os outros, que não têm esperança» (1 Ts 4,13); e a primeira carta de Pedro convidava a estar «sempre dispostos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la peça» (1 Pe 3,15).
Trata-se de viver com esperança e dando esperança. Mas não é fácil. Porque em toda a espera estamos expostos a confundir, a trocar os dados; quer pela impaciência de conseguir o esperado, quer pelo desespero de não o conseguir. Por isso, precisamos da lucidez que Jesus recomenda no Evangelho. A esperança cristã não surge da mera expetativa humana, mas de uma promessa. A sua fonte original é Deus.
Esperar é
– saber que «Tu, Senhor, és nosso Pai, o teu nome é, desde sempre,
nosso Libertador» (Is 63,16);
– sabermos que «nós somos o barro e tu o oleiro» (Is 64,7).
– aceitar que Deus tem a palavra e reconhecer-lha (Jo 6,68).
– confiar em Deus e abrir-lhe, de par em par, a porta da vida;
– deixar que Ele comande a nossa existência, mesmo quando caminharmos
por vales escuros (Sl 23,4), porque Ele é nosso pastor (Sl 23,1).
– manter alerta as antenas do espírito, para perceber a presença do Senhor;
para desmascarar as falsas esperanças (Mt 26,41)).
ADVENTO é o tempo do ser humano, concebido mais como projeto do que como um produto acabado; e o tempo da Igreja, que celebra tudo, enquanto espera «a vinda gloriosa» do Senhor. É, pois, o nosso tempo. Vivamo-lo! Que o Senhor nos conceda a graça de saber esperar assim, e de semear essa esperança entre as pessoas!
*Escrito por fr. Domingo Montero, diretor da revista “Evangelio y Vida”.
Tradução de Lopes Morgado